A importância de ouvir antes das decisões
Considerar os outros para resolver situações cotidianas é fundamental para a boa gestão escolar
Terezinha Azerêdo Rios (gestao@atleitor.com.br)
Foto: Marcos Rosa
Fiz parte da banca de uma tese de doutorado na qual o pesquisador realizou  entrevistas com professores de escolas públicas que foram designados para o  cargo de diretor escolar. Inquiridos sobre as razões que os levaram a abandonar  a docência, alguns afirmaram que o fizeram para "se ver livre do trabalho  pedagógico". E, ao falar das características das funções no novo cargo,  mencionaram que "o posto é mais valorizado que o de professor", além de "não  sofrerem com as dificuldades de sala de aula", com problemas relacionados,  principalmente, ao comportamento dos jovens. "Quero distância de alunos e pais",  afirmou um deles.
A pesquisa foi realizada em instituições da rede  pública, mas situações e opiniões como as relatadas não são exclusivas dela. A  discussão em torno do estudo nos fez refletir sobre o que está guardado no papel  de gestor. Ou melhor, o que espera o educador - diretor, coordenador pedagógico  ou orientador educacional - quando ele entra nesse espaço chamado de  administração escolar.
É a lamentável a separação feita entre o  administrativo e o pedagógico - a principal geradora de atitudes e posições como  as que o pesquisador levantou. Torna-se necessário fazer, sim, a distinção entre  um e outro, mas não se pode separá-los. Até porque a administração, na escola,  só pode ser entendida como pedagógica.
Se buscarmos a etimologia da  palavra administração, verificamos que ela nos remete a um trabalho que se  realiza com alguém. Ad-ministrare, do latim, significou, em primeiro  lugar, "ministrar junto". Quem ocupa esse cargo aparece, originariamente, como o  mestre cujo trabalho tem a mesma significação daquele feito pelos que o  acompanham em suas tarefas. No campo da Educação e da escola, deveríamos manter  esse sentido original. Ele guarda referência à alteridade e à consideração que  se deve ter pelo outro como um elemento fundamental das relações que se dão na  escola e no contexto social em que ela está inserida. A autoridade do gestor,  portanto, só ganha sentido na perspectiva da alteridade e da igualdade nela  implicadas. A ética nos faz ver que o outro é diferente, mas igual em direitos e  em sua humanidade. Na escola, desempenham-se funções diversas e, na riqueza  desse convívio, se cria a possibilidade de um trabalho realmente coletivo. A boa  atuação do gestor, portanto, não se faz a distância das salas de aula, das  reuniões pedagógicas e da comunidade. A melhor sala de direção é aquela em que  estão presentes os outros ambientes da escola e todos aqueles que convivem nela.  Ninguém, ali, "se livra" do trabalho pedagógico.
Terezinha  Azerêdo Rios
É professora do programa de pós-graduação em Educação da Universidade 9 de  Julho.




 
 


 





 






 
Nenhum comentário:
Postar um comentário